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16. AGILIDADE EMOCIONAL: APRENDER A VIVER COM AS EMOÇÕES E SEGUIR COM AS NOSSAS VIDAS

 


Vivemos hoje em constante stress ou em sobrecarga com as exigências do trabalho, família, saúde ou finanças. Há ainda um número infindável de outras pressões pessoais a par de grandes forças que afetam a sociedade como a pandemia, uma economia global inconstante e imprevisível, mudanças climáticas, mudanças culturais e até de género e um nunca acabar de tecnologias úteis mas muitas vezes disruptivas.

A resposta dos dias de hoje para a sobrecarga é tornarmo-nos profissionais multitarefas acabando por aumentar esta sobrecarga, que na realidade não nos traz qualquer alívio. O nosso desempenho quando executamos várias tarefas em simultâneo, é comparável a conduzirmos bêbados. 
Por outro lado, nem sempre as ações que ocupam mais o nosso dia estão alinhadas com os nossos sonhos ou o que mais desejamos para as nossas vidas. Apesar de muitos de nós procurarem perceber o que é melhor para si e para os seus, sentimo-nos muitas vezes encurralados pelas circunstâncias da vida atual, alimentadas pelos nossos pensamentos e sentimentos muitas vezes auto destrutivos. 
Preocupamo-nos muito com as coisas que queremos fazer e não podemos em vez de fazermos as coisas que podemos fazer mas não fazemos. Este sentimento de se estar encurralado, torna-se a nossa vivência diária. Porque a nossa mente não consegue diferenciar entre imaginação e experiência real. A imaginação e a repetição de pensamentos, cria uma rigidez de percepção que se transforma na nossa realidade. 

Como podemos então ser mais honestos para connosco e fazer as mudanças necessárias para reduzir a distância entre as nossas intenções e a nossa realidade?

Trabalhando a nossa agilidade emocional por forma a termos mais flexibilidade na análise das situações e interações, através da aceitação e compreensão do que sentimos e usando esse conhecimento para adaptarmos e alinharmos os nossos valores e ações. Só assim nos libertamos da sensação de bloqueio ou de estar encurralado.

A agilidade emocional é um processo que nos permite navegar pelos altos e baixos da auto-aceitação, com uma visão clara e mente aberta (Susan David).

O primeiro passo é reconhecer que todas as emoções são importantes. Têm um propósito e sinalizam uma necessidade. Infelizmente, a maior parte de nós não desenvolveu a literacia emocional. Somos condicionados desde muito cedo a catalogar erradamente as emoções como positivas ou negativas, reprimindo estas últimas por serem más e indesejadas. Aprendemos a não dar voz ao que sentimos, reprimindo ou mascarando as emoções.

A explosão da Psicologia Pop, das milhares de receitas de auto-ajuda e a venda de soluções rápidas e milagrosas popularizadas pela versão "fast food" do coaching, ampliaram os efeitos da positividade tóxica. Infelizmente, a eficácia da psicologia positiva foi banalizada por esta cultura de consumo e de promessas de rápida transformação aplicada aos processos de mudança, crescimento e tratamento.

A investigação tem demonstrado que tentar substituir pensamentos negativos por positivos pode levar-nos a sentir ainda pior (Susan David). Tentar impor pensamentos felizes é extremamente difícil porque a maior parte de nós não consegue simplesmente desligar os pensamentos negativos e substituí-los por agradáveis. Tentar corrigir pensamentos e sentimentos perturbadores leva-nos a uma fixação não produtiva e até destrutiva. Tal como a metáfora da avestruz com a cabeça no buraco. Na tentativa de ignorar, minimizar ou mesmo mascarar esses sentimentos, podemos criar problemas mais graves como o refúgio obsessivo no trabalho em excesso ou o consumo de substâncias que podem levar à dependência e/ou problemas de saúde (incluindo a comida).

A realidade, é que as chamadas "emoções negativas" estão frequentemente a trabalhar a nosso favor. E a negatividade é normal. Estamos programados para por vezes sentir "negativo", sendo uma parte fundamental da condição humana. 
A expectativa criada pelas nossas culturas e sociedades de consumo, e a banalização da Psicologia Pop para "estarmos sempre bem", levam-nos a fazer tudo para anular os sintomas do mau estar com medicação, consumo de substâncias, imposição de pensamentos positivos ou outros artifícios que reforçam esta ideia de que não é normal não estarmos bem. A norma passou a ser o bem estar permanente e contínuo e a felicidade, popularizadas pelas redes sociais e muitas vezes associada ao parecer, ter ou poder.

O que fazer então?

1. Viver no presente, dando espaço e folga às nossas emoções e pensamentos, encarando-os com coragem e compaixão. Imaginar as emoções como o nosso mais fiel e verdadeiro mensageiro que nos traz uma informação vital. Libertar o caminho para descodificarmos a mensagem e compreendermos o seu propósito. Só assim poderemos ultrapassar essas emoções e continuar com as nossas vidas.
Poderá ser importante recorrer a ajuda profissional para aprender a fazê-lo, principalmente se está a vivenciar situações de burnout, trauma ou depressão.

2. Aprender a arte da "visão de helicóptero". Depois de aceitarmos as nossas emoções e pensamentos, iniciar um processo de desapego para os ver em perspectiva e como realmente são: simplesmente emoções e pensamentos. É neste distanciamento, que encontramos a clareza para escolher como responder da melhor forma.

3. Alinhar a nossa resposta com os nossos valores e aspirações a longo prazo. Manter os nossos valores centrais como a verdadeira bússola que nos mantém na direção certa. Por exemplo, supondo que um dos seus valores centrais é a honestidade. Imagine que se sente magoado com alguém importante por algo que essa pessoa possa ter dito ou feito. Depois de ter passado pelos processos anteriores de descodificar o que está a sentir e a pensar, e a necessidade que essa emoção está a responder, clarifique a sua intenção na escolha da resposta. Ou seja, se o valor é a honestidade, qual a sua escolha de resposta que mais se alinha com esse valor? Seria I) conversar com a pessoa, II) guardar e alimentar o ressentimento ou III) encontrar formas de a magoar de volta? Claramente a primeira opção é a que mais se alinha com o seu valor central.

4. Compreender que temos sempre a possibilidade de re-escrever as nossas histórias. Não podemos mudar o passado, mas podemos assumi-lo como uma dádiva que nos ensinou o que sabemos hoje. E usar essas lições como uma plataforma para atribuir novos significados, que nos ajudem a compreender quem somos, como queremos estar e para onde queremos ir.

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