Dizem que o MIUT é uma das provas de trail mais duras de Portugal. Subidas e descidas infernais de alturas diversas, por degraus de terra, pedra, cimento e até calçada. Quem participa no MIUT e recebe a pulseira da cor da sua distância, ganha uma espécie de “tatuagem” temporária, que exibe muito além da prova. Nos dias seguintes, pelas ruas de Machico, arregaçam-se mangas e exibe-se o feito pela cor que se transporta no pulso. É a versão em trail do Senhor do Bonfim, mas com o sonho realizado e dever cumprido.
No domingo, para além da fita, reconhecem-se os atletas pelo andar novo e a lentidão na marcha. Os mais corajosos ou menos lesados pela dureza dos percursos, atrevem-se a uma corrida pelo paredão, exibindo a t-shirt oficial da prova.
É aquela feira das vaidades de que todos temos orgulho em fazer parte. E eu não fui exceção. Corri 63Km. Recebi a fita azul-clara. Mas os bravos desta prova, são os heróis dos 115 e dos 85 km. No meu grupo de amigos, tivemos 3 finalistas da distância Rainha. A minha amiga Cristina, fez pódio nos 115 no escalão F50, depois de 29h em prova. Respeito e muito orgulho!!
Corri durante 12h48. Menos 2h12 do que esperava. Consegui terminar a prova sem usar a lanterna, ou as mudas de roupa que pela primeira vez transportei. A subida aos Picos (Areeiro e Ruivo), como qualquer desafio de alta montanha, pode apanhar qualquer um desprevenido. Ao longo de 14 edições, houve provas com neve e dezenas de desistências devido à hipotermia. Este foi um dos medos que alimentei antes do grande dia. A ansiedade pré-competitiva, deu lugar a tantas outras preocupações. Que fui gerindo com uma boa preparação e gestão das emoções.
Iniciámos a prova às 8h em Boaventura, depois de uma viagem de 80 minutos, a partir de Machico. Adorei ouvir os cagarros antes de entrar no autocarro. A conversa com um atleta do escalão 65, sentado ao meu lado, levou-nos para a melhor poncha da ilha onde celebrei durante largas horas com os amigos, no dia seguinte.
Os primeiros 25 km, foram praticamente a subir. Dos 250 aos 1.760m de altitude. Em modo de formiga no início, arrebatados pela imensidão das montanhas que passo a passo, fomos trepando até ao topo. Foi uma subida silenciosa. Resignada. Acostumei-me de outras provas, a escutar os divertidos, refilões e mal preparados, que se metem nestas andanças sem saber para o que vêm, frequentadores habituais das distâncias até aos 45km.
Pela primeira vez, senti-me noutra liga. No silêncio das nossas vozes e mergulhados na beleza da natureza a acordar com o nascer do dia, fomos subindo em modo de procissão, contemplação e profundo respeito por toda aquela imensidão esmagadora em todos os sentidos. Duro. Muito duro. E ninguém se queixou. Sabíamos para o que vínhamos.
Quando nos preparamos para enfrentar um Adamastor, resignamo-nos. Rendemo-nos ao processo sem olhar para trás. Porque não há outra forma. É uma excelente metáfora para ilustrar o processo de desbravar os medos. Desistir está fora de questão. Sabemos o que nos espera. Queremos a emoção, o deslumbramento, o reconhecimento, a sensação de superação e de cortar a meta, não importa quantas horas depois, apesar das dores que, entretanto, ocupam cada vez mais espaço. Reconhecemos mais do que nunca, que as melhores coisas da vida, estão do outro lado do medo.
A energia vem dos sítios mais improváveis. Das paisagens de cortar a respiração, do caminhar sobre as nuvens, da felicidade de ser recebida pelos amigos e marido no controlo dos 30 km, da canja de galinha aos 43 km, do companheirismo a meias palavras com o senhor da Suíça durante os últimos 10 km, de me cruzar com uma amiga a 4km de terminar, da decisão em acabar de dia e correr para as luzes da meta, pelos trilhos da última levada.
Foi uma prova de meias palavras em francês, pelas vozes das centenas de turistas que gritavam “Ale, ale, bravo! Courage!”.
Embalada por esta melodia, a tremer entre o frio e o calor, e nos braços do meu companheiro de vida, adormeci nessa noite grata por aos 50 anos não conhecer limites e estar rodeada de pessoas suficientemente “loucas” para me apoiarem sem restrições e embarcarem nestas aventuras como uma forma de estar na vida.
PS: veja nesta publicação algumas imagens e videos desta aventura.
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