Avançar para o conteúdo principal

34. E VOCÊ? JÁ FEZ ALGUÉM FELIZ HOJE?


Passamos tanto tempo embrenhados na busca da nossa arca perdida, que nos distraímos do momento atual, e das oportunidades que se apresentam, numa abundância que ofusca e nos torna cegos.

Ditadura da felicidade. Um dos movimentos mais bem sucedidos de sempre, que nos empurrou por estes rápidos e cascatas intermitentes, em que o foco é sempre na pedra seguinte. A velocidade e força da corrente, distraem-nos do resto. De todo um mundo que acontece sereno e contemplativo à volta desta força, que arrasta todos nas suas águas, tornando-os iguais e solitários nesta busca irrealista.

E agora, à felicidade, junta-se o propósito. "Tens que ter um propósito. Tens que deixar a tua marca. Fazer a diferença!" E não fazemos todos? Diariamente? Com ou sem consciência. Juntar-lhe um propósito e este ideal da felicidade que se procura como se de uma caça ao tesouro se tratasse, ou uma conquista dos lugares no pódio, são dos maiores disparates consentidos a que nos submetemos coletivamente.

Vejamos; a felicidade não é algo que se busca, procura ou conquista quando se alcança alguma coisa. A felicidade é uma emoção do aqui e agora. Vive-se no presente. Não se adia ou procura como um tesouro. É a forma como lidamos com o que temos, como escolhemos aparecer e interagir, é o modo como estamos em relação que predizem a nossa capacidade para sentir felicidade. No aqui e agora. E tal como qualquer outro estado emocional, é dinâmico. Não nos pertence nem é cativo quando alcançado. Também é verdade que quanto mais beneficiamos desta emoção, maior a capacidade de a "evocar" no momento presente. 

A outra notícia que vos quero dar, é que precisamos dos outros para ser felizes. Somos seres sociais e dependemos uns dos outros para viver e sobreviver. Para estas emoções com uma conotação tão agradável, a interação com o outro deveria ser uma regra. Neste caso, é mais fácil encontrar fora, o que procuramos dentro.

Vou contar-lhe um segredo: é mesmo muito fácil fazer os outros sentir-se felizes. Um telefonema, um elogio, uma homenagem, um reconhecimento. Assim. Sem mais nem menos. Se quiser um nível mais avançado, repare na forma como escolhe aparecer. Estar presente com os outros.
E se escolher deixar os ambientes por onde passa melhores do que os encontrou? Seja nas compras que faz no supermercado, nas filas de trânsito na estrada, nas interações com a sua equipa ou família. Já se deu conta das milhares de oportunidades que tem diariamente para largar o seu umbigo e olhar para o dos outros? Para elogiar, reconhecer, validar?
Outra boa notícia, é que não precisa de saber o que os outros necessitam. Ou o que lhes poderia fazer bem neste momento. Porque todos sem excepção, precisamos de sentir com frequência que temos importância. Que valemos a pena. Que somos suficientemente bons. 

Já reparou que é um poder demasiado grande para termos nas nossas mãos? A resposta às necessidades dos outros? Provavelmente das melhores e maiores formas de poder. 

Importante saber que existe o "modelo vampiro". Sugar todo o sangue e energia dos outros para proveito próprio. Acredito que todos em algum momento já fomos ou somos vampiros. Um estado que não se quer permanente. Quando lidamos durante muito tempo com sugadores de sangue, ficamos sem energia, cinzentos e desprovidos de capacidade de resposta.

Mas outras pessoas surgem em forma de luz. Ilumimam os sítios por onde passam, aquecem-nos e trazem clareza. A sua energia alimenta. Quando lidamos com estas pessoas, ganhamos cor. Capacidade. Crescemos e acreditamos. Qualquer um de nós pode escolher iluminar em vez de tirar sangue.

Voltando ao propósito, se fizer parte dos milhares em stress porque ainda não encontrou o seu, concentre-se apenas em tornar o mundo daqueles com quem interage um melhor lugar para viver. E sem se dar conta, usa o seu poder para a transformação com o maior efeito multiplicador. No caminho, pode ser que encontre um propósito. Se não o fizer, abriu com certeza o espaço para que tantos outros possam encontrar o seu.

É uma decisão pessoal e uma atitude que se pode trabalhar. Nas inúmeras oportunidades que tem no dia a dia. 

Em conclusão, o caminho mais direto para a felicidade, é fazer os outros felizes.
E você? Já fez alguém feliz hoje?

____

Espreite os links com conteúdos gratuitos que preparei para si:
- Newsletter Conversas com o Medo
- E-book As 50 Sombras do Medo
- E-book 24 Perguntas para as Conversas com o Medo

Acompanhe-me diariamente nas redes sociais:

Consulta de Psicologia Clínica - fale comigo

Comentários

Mensagens populares deste blogue

14. CULTURAS TÓXICAS E TRAUMA PROFISSIONAL (parte I)

Sentes as batidas do coração na garganta. Tens o estômago apertado e o corpo tenso. Percorres os últimos metros do caminho que te leva ao escritório, olhas para o relógio e abrandas o passo. Queres voltar para trás. Ouves o plim de mais uma mensagem no telemóvel a gritar urgência. Identificas o remetente indesejado de entre as centenas de emails que recebes diariamente. O coração explode. Aguardas o início de uma reunião online, com um nó no estômago e desejas até ao limite das tuas forças que a internet falhe. Imaginas constantemente um rol de razões válidas para justificar a tua desejada ausência. Lês uma mensagem e pensas em cada palavra antes de responder. Ainda assim, corriges 10 vezes antes de enviar. Estás numa reunião e pensas vezes sem conta no que queres e como queres dizer. Abres a boca, és interrompido ou ignorado e arrependes-te logo de seguida. Ou acabas por não dizer nada aumentando o teu esforço para gerir a ansiedade que entretanto aumentou. A meio do dia, já estás de

22. MINHAS QUERIDAS E MEUS QUERIDOS; ESTA NÃO É UMA MENSAGEM DE AMOR.

  "Minha querida Maria, quantas vezes tenho que te explicar que não é assim que se fazem as coisas? Já tivemos esta conversa milhares de vezes..." Ouves esta frase. Mais vezes do que gostarias. E no hábito que se transformou numa rotina, continuas a achar que há algo que não bate certo. O que é que existe de profundamente dissonante nesta mensagem? A frase começa com minha querida - palavras de amor, apreço, colo - e o que vem a seguir, é como uma palmada no rabo. À moda antiga. Uma tareia de incompetência e incompreensão, regada de sentimentos de irritação, frustração e impaciência. Que o teu interlocutor te oferece como se de um abraço se tratasse. E tu voltas a ter 5 anos. Sentas-te no lugar da criança inexperiente e ignorante que já fez mais uma asneira.  Juntar estes dois significados na mesma frase, não só confunde a mensagem como é uma das formas mais frequentes de agressividade passiva. E provavelmente das mais impactantes negativamente não pela gravidade, mas pela f

Ale, Ale, Bravo! Courage! - A experiência do MIUT

A experiência do  MIUT -  Madeira Island Ultra Trail ​ D izem que o  MIUT  é uma das provas de trail mais duras de Portugal. Subidas e descidas infernais de alturas diversas, por degraus de terra, pedra, cimento e até calçada. Quem participa no MIUT e recebe a pulseira da cor da sua distância, ganha uma espécie de “tatuagem” temporária, que exibe muito além da prova. Nos dias seguintes, pelas ruas de Machico, arregaçam-se mangas e exibe-se o feito pela cor que se transporta no pulso.  É a versão em trail do Senhor do Bonfim, mas com o sonho realizado e dever cumprido. No domingo, para além da fita, reconhecem-se os atletas pelo andar novo e a lentidão na marcha. Os mais corajosos ou menos lesados pela dureza dos percursos, atrevem-se a uma corrida pelo paredão, exibindo a t-shirt oficial da prova. É aquela feira das vaidades de que todos temos orgulho em fazer parte. E eu não fui exceção. Corri  63Km . Recebi a fita azul-clara. Mas os bravos desta prova, são os heróis dos  115  e dos